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terça-feira, 21 de junho de 2011

Conservação e Restauração

Desde a invenção da escrita, o homem deixou anotado, em diversos suportes, seus conhecimentos para não esquecê-los e para que fossem passados de geração a geração. Depois de utilizar paredes de caverna, argila, madeira, metal, papiros, pergaminhos e finalmente chegou ao papel.

O papel se tornou o principal suporte onde estão gravados os conhecimentos, por sua facilidade de fabricação em massa, que não era possível com os pergaminhos, e também é mais resistente a fatores externos que o pergaminho. Além disso, o pergaminho era um suporte cruel, pois matava carneiros e bezerros ainda no ventre da mãe.

Por essas e outras, o papel se tornou muito utilizado. Ainda hoje, em que possuimos diversos suportes digitais, o papel ainda é o principal meio de armazenamento de conhecimento. Porém, devido a diversos fatores externos, como sol, poeira, umidade, água, fogo, ácaros, fungos, contato, etc. Todos esses fatores desgastam os livros e documentos, lenta ou rapidamente, e para evitar que o conhecimento contido seja perdido, é necessário que hajam técnicas para fazer a melhor conservação possível, e em casos necessários, a restauração dos documentos.

Os principais fatores que podem causar a deterioração do papel são físicos, químicos ou biológicos.

Começando pelos químicos, muitas vezes documentos se perdem devido à acidez. Esta pode destruir o documento de três formas: componentes usados na fabricação do próprio papel, por meio das tintas e por exposição a materiais ácidos ou atmosfera ácida. A acidez descola as fibras do papel e as deixa mais vulneráveis à umidade, que destrói a celulose. A folha torna-se dura, frágil e podem aparecer buracos no papel. As tintas que mais causam acidez são as ferrosas.

Além das tintas, materiais ácidos causam o mesmo problema, especialmente os gasosos que chegam ao papel com facilidade. A acidez costuma ser o principal agente químico, mas a basicidade também pode causar danos aos papéis, mesmo que menos frequentemente. Favorece a penetração da umidade e , com isso, os fungos. A alcalinidade acontece com intensa umidade, inclusive sendo o documento encharcado com água, ou com contato com cloro, não sendo tratado com neutralização. O ph ideal dos documentos fica entre 6 e 8, sendo que estando fora dessa faixa, deve ser submetido a tratamento para evitar perda de informação.

Como fatores físicos, temos principalmente o homem, o sol e a umidade. O homem pode dobrar o papel, usar saliva para separar páginas grudadas, fuma, etc. E, com isso, causar a degradação do material. Fora isso, ele pode armazenar os livros em local inapropriado, com exposição ao sol ou umidade muito intensos, por desconhecer os danos que tal ato causa aos volumes.

As radiações ultravioleta e infravermelha do sol destroem as fibras do papel, destruindo-o em curto prazo. Estudos dizem que a radiação rompe as moléculas de celulose e tira 65% da resistência do papel. Os locais de armazenamento de documentos devem ser iluminados artificialmente, evitando as lâmpadas de tungstênio e usando lâmpadas fluorescentes.

Outro fator que causa graves danos aos acervos é a umidade. Não apenas quando o livro entra em contato com a água, mas também com aquela contida na atmosfera. A faixa ideal de umidade é de 50% a 60%. Acima disso, há chances de surgirem fungos, e abaixo disso, o papel pode ressecar e destruir as fibras e apodrecer o papel. A temperatura também pode ser um problema para os papéis, mas apenas quando ocorrem grandes variações de temperatura subitamente. O ideal da temperatura seria de 18 a 21º C, para não atrapalhar o desempenho das pessoas e não permitir a proliferação de insetos e ratos, que podem, também, destruir o acervo.

E em fatores biológicos, temos os animais que comem os documentos armazenados, insetos como besouros, traças, baratas, etc. Fungos e roedores. Basicamente, esses animais comem as folhas dos documentos, e as vezes suas capas, podendo causar danos severos aos acervos.

Depois de citar os diversos fatores que podem causar a perda de livros, passamos agora para as medidas preventivas que os profissionais bibliotecários devem saber, para evitar a ação dos eventos degenerativos.

De início, a acidez do material ou da tinta não pode ser evitada, mas pode ser remediada pelo restaurador de papéis. Caso algum material esteja amarelado e com cheiro forte, deve ser separado para evitar a contaminação de outros materiais. Materiais com danos devido a umidade, pontos escuros e castanhos, também devem ser separados para ser tratados. A temperatura e a umidade devem tentar ser mantidas na faixa aceitável acima citada. Caso a temperatura não possa ser controlada, pelo menos a umidade deve ser mantida com aparelhos elétricos como desumidificadores, e são automáticos e baratos, além de indispensáveis para a manutenção.

As estantes devem ser metálicas, pois estantes de madeiras atraem cupins, possuir espaços no ambiente inteiro para que possa ser adequadamente limpado, e o assoalho deve ser sintético, para facilitar a limpeza e não atrair cupins e fungos. A luz do ambiente deve ser artificial, e caso existam janelas, persianas devem ser utilizadas. As pessoas não devem trabalhar na mesma área de depósito do acervo, para evitar contaminação.

Os funcionários devem ser instruídos a não dobrar folhas, riscar folhas, manusear com mãos sujas e suadas nem lamber os dedos para passar páginas. Deve ser proibido fumar e comer perto dos livros. O acervo deve ser examinado periodicamente para checar se não há invasões de fungos ou insetos. Caso hajam infestações, devem ser tratadas por especialistas, e o material deve ser isolado. Caso o ambiente em que a biblioteca ou centro de documentação esteja localizado for muito poluído, as portas e e janelas devem ser mantidas sempre fechadas, e o interior climatizado.

Agora, para restaurar... Lembrando que aqui constam apenas algumas orientações, e não um curso completo de restauração, que leva muito tempo para ser feito. Quando um livro ou documento é levado para restauro, o laboratório deve fazer diversos procedimentos para recuperar o documento e provar que ele foi de fato bem recuperado. Todo material deve ser fichado, para que a ficha acompanhe o material em todo o processo de restauração. A foto deve ser tirada antes e depois para provar a restauração, tranquilidade de quem solicitou o serviço, segurança e futuras pesquisas. O exame e o diagnóstico devem ser fichados, assim como a indicação de tratamento para o documento.

Os produtos químicos utilizados na limpeza devem ser testados em pequenas áreas, e as tintas testadas para ver se não são solúveis, caso sejam, devem ser fixadas. Então, faz-se a primeira limpeza com trinchas macias e pó de borracha. Depois, fitas adesivas, remendos e outros objetos estranhos ao documento devem ser retirados. Durex e etiquetas adesivas costumam ser removidos com benzol ou éter de petróleo, e fita mágica deve ser removida com acetona, éter sulfúrico ou álcool absoluto. A fita pode acabar deixando resíduos, dependendo do documento.

Checa-se se o documento é enumerado, e caso não seja, é numerado para não perder a ordem e o documento é desmontado. As manchas são, então, removidas de acordo com a necessidade. Depois, um fungicida e/ou inseticida é aplicado para desinfetar os livros e as estantes. Porém, deve-se tomar cuidado ao aplicá-los por serem, diversas vezes, tóxicos. Caso o material precise de lavagem, deve ser feita com água destilada, e não com água de torneira. A água de torneira possui diversos outros átomos, mas em especial o cloro causa problemas aos livros, por aumentar a basicidade do livro.

O ph deve ser medido, caso esteja acima de 8, deve ser desalcalizado, e abaixo de 6, desacidificado. Caso esteja ácido, deve ser tratado com branqueador à base de cloro. Um método de branqueamento é: mergulhar o documento por 10 minutos em água morna ou ambiente e hipoclorito de sódio 2 a 5%. Depois, a um banho de água fria e corrente por 3 horas. Depois, uma solução de água destilada e hiposulfito de sódio a 2% é feita e deixa o documento mergulhado por 3 horas. Depois, é posto para secar. Caso o material não possa ser molhado, deve ser desacidificado por uma solução de hidróxido de bário cristalino e metanol em baixa proporção, sendo que tal solução deverá ser pulverizada. Deve-se tomar cuidado para não inalar tal solução, por ser extremamente tóxica. Se puder ser molhado, após o branqueamento, segue este processo: água de cal a 3% em banho de 10 minutos. Depois, mais 10 em solução de carbonato de cálcio em proporção de 0,5 a 3%. É o tratamento ideal para manuscritos A secagem, que segue após, deve ser feita ao natural, pois se for utilizado calor artificial, as fibras se enfraquecerão.

Caso o material esteja alcalino, deve ser neutralizado com ácido cítrico diluído em água destilada em 1/1000. Então, deve ser secado da mesma forma que o material acidificado.

Para a recuperação em si, pasta de fibras deve ser aplicada manual ou mecanicamente, para preencher com tal poupa todas as falhas e buracos no papel. No Brasil, há poucos ou nenhum centros de restauração que utilizam máquinas para fazer a restauração. A maioria é manual, que é lenta, porém muito mais eficiente. Se a pressa for grande, e o acervo também, pode-se usar a velatura, que utiliza papel extrafino, cola sintética e trincha macia. O papel é colado ao documento em uma ou ambas faces para reforçá-lo.

Depois de todo esse processo de restauração, o documento deve ser encadernado e fotografado, caso seja pedido.

Outras recomendações que podem ser úteis: nunca usar cola de origem animal, pois atraem insetos e aumentam a acidez do documento. Papéis e capas devem ter o ph neutro ou muito próximo à neutralidade. Se não, devem ser submetidos à desacidificação ou desalcalização. Caso o documento não-encadernado esteja em estado muito precário, deve ser colocado entre lâminas de acetato de celulose e esperar ser restaurado.

Se houver falta de um restaurador profissional, remendos podem ser feitos com papel de arroz e cola vegetal, mas apenas em situações extremas. Evitar durex e fita mágica, pois são difíceis de retirar. Finalmente, deve-se tentar fazer uma boa conservação no acervo, para que sua restauração não seja necessária, mas caso seja, deve ser feita por profissional de boa qualidade e de forma reversível.

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